segunda-feira, 18 de março de 2019

Outra despedida

Escrevi em 2016 e achei bonitinho. Deixo registrado aqui.

Não tem pão quentinho esquentando a minha cintura, onde eu o carrego.
Não tem pão com alho e nem o padeiro que me oferece pra provar um.
Não tem essas espécies variadas de árvores, as folhas da dama-da-noite e do flamboyant que decoram a minha porta de casa, todo dia.
 Não tem os porteiros de uniforme cinza varrendo as folhas verdes em frente aos seus prédios e me olhando nos olhos e sorrindo quando eu dou "bom-dia".
Não tem porteiros.
Não tem folhas verdes no chão em pleno verão.
 Não tem o som desses pássaros, nem homens olhando quando eu passo na rua.
Nem pessoas olhando.
 Não tem construções desalinhadas, uma de cada tamanho, uma do lado da outra.
 Não tem grades nos canteiros.
 Não tem grades.
Não tem cachorros latindo.
É isso.
Estou voltando à terra onde os cachorros não latem.
Subo a rua com minha meia-dúzia de quentinhos pães franceses e uma dezena de pão-de-alho olhando para tudo como se fosse a última vez.
 Respiro o ar, escuto os sons das folhas sendo varridas, me despeço mentalmente das pessoas. Começou mais um ritual de despedida.
Um dia vai pra valer.

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