quarta-feira, 30 de maio de 2012

Carnaval em Copenhague

   Copenhague (em dinamarquês København, que significa "porto do mercador") é a capital e maior cidade da Dinamarca, com uma população urbana de 1 167 569 habitantes. E foi lá onde eu vivi um carnaval inesquecível.
Aconteceu como as melhores coisas acontecem na nossa vida. Inesperadamente. Já vinha ouvindo falar nesse evento por semanas mas nunca me imaginei indo. Porque eu iria? Afinal de contas, moro na Noruega e tenho esquecido cada vez mais que sou brasileira. Mas ainda sou. Em cada fio de cabelo meu, cada osso e cada suspiro, sou completamente brasileira. Sou também do mundo, não há dúvidas. Mas é com a música e a alegria das pessoas do meu país que o meu coracão, agora desacostumado com tanta vontade de viver, bate muito, mas muito mais forte. Estou tão feliz por ter ido. Foi tão especial. 
A cidade é linda. A arquitetura é graciosa. A sociedade é muito mais aberta. De vez em quando sentia o cheiro de maconha no ar. As pessoas bebiam no parque, se divertiam e olhavam curiosas para o desfile que vinha em suas direcões. Nos seus olhares, a curiosidade. Essa memória vou guardar comigo. A alegria, sorrisos, a surpresa e até mesmo o choque. Havia uma menina africana que olhava para a dancarina que brilhava e se rebolava, sambava e contagiava, e deixava a africaninha com a boca aberta. 
Os meninos do afeganistão que pediram para tirar foto comigo- apesar de eu ser do grupo de apoio e estar vestindo um colete amarelo fluorescente e nenhuma fantasia, sorriam, se revezaram para segurar a máquina e no final perguntaram: De onde você é? E ao que respondi novamente aquela expressão de incredulidade, a boca aberta, a testa franzida como que tentando entender como seria possível. E o sorriso de gratidão por fazer parte daquele momento conosco.
    Nesses 3 dias de carnaval mostramos ao mundo nossa beleza.  O grupo de percusionistas e dancarinas era uma mistura impressionante. Tinham alemães, dinamarqueses, suecos, noruegueses, africanas, uma iraniana que ao ser perguntada de onde era, respondeu: do Irã, mas eu queria mesmo era ser brasileira. Haviam russas, um português que dancava bem demais e foi aluno do Carlinhos de Jesus. Ah, e brasileiros. Vários brasileiros que estavam ali para mostrar o que eles sabem fazer muito bem. Ser feliz.
  A programacão dos 3 dias estava ótima. Ouvi chorinho no parque, pegando um solzinho na grama e pensando: Como pode ser possível vários dinamarqueses tocarem nossas músicas tão bem? O Chico me tirou para dancar. Dancamos e ganhamos olhares curiosos e sorrisos. Sentamos. Em seguida duas meninas loiríssimas comecaram a sambar. E sambavam. E me chamaram para vir com elas. E eu fui pega de surpresa. Ao invés de me juntar a elas, fui tentada a filmá-las. Estava entretida com a beleza e exoticidade daquele momento. Perguntei onde elas aprenderam a dancar tão bem assim. "Foi em uma escola de samba em Aarhus". Pois é. Tem gente interessada no Brasil em todo lugar do mundo. Quanta compreensão eu recebi. Sem nenhuma palavra ser dita, os olhares cúmplices comunicavam: Eu entendo, eu vejo a beleza que você vê. Eu estou contigo, vamos dividir esse momento único, vamos ser felizes aqui e agora.
  Tive a sorte de fazer amizade com alguns dinamarqueses. Eles trabalhavam na parte de som e eletricidade da festa. E eram legais demais. Sempre oferecendo cervejas e com eles eu aprendi a cantar uma música para brindar com eles em sua língua. Trocamos boas vibes e estamos agora com aquele gosto de quero mais. 
  Fui paquerada. Algumas vezes com um olhar safadinho, outra com um aperto na bunda de um senhor muito mais velho que eu... Outras com elogios, mas de todas a mais estranha foi quando um cara bem vestido, com direito a colete e terninho que faziam um interessante contraste com a maquiagem que ele usava nos olhos e rosto se abaixou até o chão e beijou o meu pé. Meu tênis que era preto mas estava marrom depois de sambar na grama, terra e asfalto levou um beijo. Foi uma surpresa, de fato.
  Após esse episódio, ele me escolheu como alvo. Eu dancava distraída e de repente alguém me avisava que tinha alguém atrás de mim. Eu me virava para trás e via aquele cara imenso e exótico me olhando com cara séria. A estratégia dele não funcionou nem um pouco. Fiquei curiosa para entender de que tribo ele vem, apenas isso. Perguntei se era escravo e ele disse que "às vezes". Ah! Pensei comigo mesma. É sadomasoquista. As investidas dele acabaram por incomodar o meu novo amigo, dinamarquês que fala português muito bem e conhece mais músicas de axé do que eu. Meu amigo me chamou para sair dali e eu fui, mas o meu fã não gostou nem um pouquinho e veio atrás. Aí eu senti medo. pensei que iam brigar e me meti na frente, mandando ele ficar tranquilo e ir embora. Mas ele não desistiu. Falava e falava no ouvido do meu amigo, que tinha uma cara de que não estava a fim de conversar com ele não. Eu saí e fui chamar um seguranca. Não tinha segurancas na festa. Falei com o barman que surpreso me levou para contar a estória de que um cara tinha beijado o meu pé e agora estava importunando meu amigo para um outro barman. E nisso eu olhei para trás e vi que o insistente tinha ido embora. E eu e meu amigo acabamos indo também porque já não tinha mais clima ficar ali. E o que o insistente tanto falou, perguntei eu. "Que ele era casado e que não queria roubar a menina bonita dele, e que eles tinham que ser amigos". Estranho. Muito estranho. Conversei com um brasileiro que reside há 15 anos na Dinamarca, e ele me disse: "Aqui não tem brigas. Dinamarqueses não brigam". Eu gostaria de ter sabido disso antes da perseguissão acontecer. Continuamos a festa, com direito a churrasco, os meninos tocando Martinho da Vila para mim, enquanto umas 2 brasileiras que claramente não lidavam bem com sua idade e continuavam agindo como se ainda fossem o centro das atencões tentavam roubar a cena. 


Meninos escandinavos que não faziam parte do grupo espiavam tímidos e interessados. Eu dancava e era feliz demais. Não precisava de mais nada. Muita bebida ajudava alguns a se libertar de suas amarras. Eu pouco bebia, e era mais livre do que nunca. Como é maravilhoso ser casada e ainda assim ser livre. Sou muito grata a meu marido por isso. Minha nova amiga Camila se divertia demais. Às vezes nos uníamos para contar estórias ou rir de alguma coisa. Ela estava muito feliz por estar ali, e eu fiquei feliz por tê-la convidado. Dividimos quase tudo e sem problema nenhum. Ela está agora indo para suas próximas aventuras, no leste europeu e depois volta à sua rotina de tripulante de cruzeiro. E no sábado vai ter carnaval em Oslo. Eu ia para Paris com o H-P mas por vários motivos cancelamos. Então eu vou curtir mais um pouquinho dessa festa. Mas minhas expectativas não são altas, porque eu sei que não vai ser igual ao carnaval de Copenhague. Aquele carnaval foi e sempre será único.



6 comentários:

  1. Oie! Eu morei em Copenhagen 6 meses. A cidade é linda mesmo, mas foram os 6 meses mais dificies da minha vida. Não achei as pessoas muito simpáticas por lá não, mas acredito que o meu tempo na Dinamarca deve ter tido um propósito, voltarei um dia como turista e quem sabe verei com outros olhos. Eu lembro do carnaval por lá, trabalhei em um kiosk de cerveja, foi bem legal.

    beijos

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  2. Aii que delicia de carnaval heim?!! .... Eu nunca tinha ouvido que tinha carnaval aqui na Escandinavia, mas pelo visto tem em todos os países por aqui!! :D

    Queria muito ir no de Oslo!! ... Divirta-se!!
    Beijão

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  3. Oi S.W., que pena que você teve experiências difíceis em Copenhagen. Mas ir visitar um lugar e se mudar pra lá são experiências muito diferentes. Como turista a gente tá despreocupado, atento aos detalhes, né? Quando vamos para morar são tantos detalhes a acertar que nossa cabeca fica a mil, a adaptacão etc.
    Mas espero que um dia você volte e tenha uma bela surpresa! Vou te confessar que tenho uma história parecida com a sua em Copenhagen, mas a minha foi em Londres.

    Obrigada pela visitinha e pelo comentário.

    Beijos,

    Marcela.

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  4. Danielle, ano que vem não perca o de Copenhagen, vale muito a pena! O de Oslo foi tímido... Nem se compara com a loucura que aconteceu em terra dinamarquesas! Rsrs

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  5. Fiquei com água na boca! Nossa, seria maravilhoso ter um carnaval assim por aqui também, né? Bjooo

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  6. Pois é Nara, me deu até vontade de me mudar para lá! Rs

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